Kaylane Timóteo teve parte do braço amputado e hoje faz parte da delegação pernambucana que está disputando a Fase Regional das Paralímpiadas Escolares
O litoral de Pernambuco é muito famoso pelas belas praias e águas mornas, mas também por ataques frequentes de tubarão aos banhistas. Com apenas 16 anos de idade, Kaylane Timóteo, que é estudante da Escola Pedro Barros Filho, situada no bairro de Piedade, teve parte do braço amputada devido a um ataque de tubarão em março deste ano. Toda a rotina de Kaylane se transformou do dia para a noite, e ela encontrou no esporte um alento e suporte para superar os novos desafios em sua vida.
“Minha vida mudou completamente depois desse ataque. Ainda na areia da praia eu me via sem rumo, mas o esporte me trouxe essa minha esperança de volta. Foi um período bastante complicado para mim, só que a família que eu encontrei no esporte foi primordial para que eu mudasse a minha visão sobre o meu futuro. Eu percebi que mesmo depois do incidente, eu posso alcançar o que eu quiser com muito esforço”, disse Kaylane.
Foi o respeitado treinador da seleção brasileira de paratletismo e integrante do programa Time PE, Ismael Marques, quem se dispôs a apresentar o mundo do esporte paralímpico a Kaylane. Ao saber do acidente, ele prontamente buscou estabelecer contato com a adolescente e seu pai, com o propósito de mostrar as possibilidades do esportes paralímpicos. Embora, inicialmente, ela tenha ignorado o primeiro contato, por sua inexperiência em atividades esportivas, o destino logo interveio, provocando uma mudança na abordagem do treinador.
Um dos paratletas treinados por Ismael é atendido pela mesma fisioterapeuta de Kaylane. Durante uma das sessões na clínica, o paratleta abordou Kaylane e mostrou todo o trabalho desenvolvido pelo treinador. Ele realizou o convite para a jovem participar de alguns treinamentos na pista de atletismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde funciona o Projeto Paratleta, que é um dos núcleos do Centro de Referência do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Desta vez, a resposta foi positiva.
“Quando tomamos conhecimento sobre o que ocorreu com Kaylane, fomos atrás para dar uma nova perspectiva de vida a ela, porque o esporte tem esse poder. Pensando nisso, buscamos apresentar o atletismo paralímpico a Kaylane e, apesar de no início estar acanhada, ela teve contato direto com pessoas que possuem a mesma necessidade dela. Desse jeito ela, foi fazendo amizade e se sentindo mais familiarizada e à vontade nos treinos com os companheiros de equipe”, relatou Ismael.
Pouco mais de um mês após o acidente, Kaylane já fazia parte do projeto de Ismael. Ela chamou a atenção do treinador por sua força, o que fez ela ser testada nos treinamentos de lançamento de dardo, lançamento de disco e arremesso de peso. Kaylane foi tomando gosto, trabalhando forte, se destacando nos treinos e fazendo novas amizades. No esporte, ela passou a ter convívio com paratletas com histórias semelhantes às dela e encontrou o suporte e estímulo que precisava para tomar um novo rumo.
“Eu conheci esse novo mundo e me apaixonei de primeira. No início, foi difícil porque não sentia capaz de me sair bem no esporte, mas o estímulo que vinha de toda a comissão técnica e dos paratletas me fez superar toda a desconfiança. A equipe se tornou a minha segunda família; são pessoas que me acolheram muito bem, me deram muito carinho, suporte e estímulo para treinar e me tornar uma atleta”, frisou Kaylane.
Em junho deste ano, veio a primeira competição da carreira, onde ela conquistou a medalha de bronze em uma competição local. O segundo desafio fica distante de casa. Pela primeira vez, a estudante está fazendo parte da delegação que representa o Estado na Fase Regional das Paralimpíadas Escolares 2023. A competição está sendo realizada em Belém, no Pará, até o próximo sábado (12), e vale como seletiva para a Fase Nacional.
Esse é apenas mais um dos inúmeros desafios que, agora, a estudante/paratleta vai enfrentar. São batalhas diárias de superação e muito trabalho, mas no que depender de seu técnico, não vai faltar apoio nessa caminhada. “Kaylane tem um força de vontade e um desempenho muito bom para uma pessoa que começou no esporte há pouco mais de três meses. Tenho certeza que ela ainda vai crescer muito e, no que depender de mim, ela ainda vai dominar o mundo”.