Rede estadual de ensino tem 3.638 profissionais, que fazem comida para mais de 500 mil estudantes
Nesta segunda-feira, 30 de outubro, comemora-se o Dia da Merendeira Escolar, profissional responsável por preparar uma alimentação saudável e de qualidade aos estudantes. Na rede estadual de ensino, 3.638 merendeiras atendem os mais de 500 mil alunos com uma pitada extra de amor, dando um tempero especial ao dia a dia na escola.
Uma delas é Suzana Aparecida, merendeira na Escola de Referência em Ensino Fundamental e Médio (EREFEM) Joaquim Xavier de Brito, na Iputinga, Zona Oeste do Recife. Dos seus 49 anos, 21 foram dedicados a cozinhar para as várias gerações de alunos na unidade de ensino. De segunda a sexta, ela acorda às quatro e meia da manhã e prepara a primeira refeição do dia – a marmita do filho – antes de sair de casa para cozinhar, junto com as suas colegas merendeiras, para um batalhão de jovens. “Esse foi meu primeiro emprego. Cheguei aqui em 2003 e estou até hoje. Já passei por cinco gestões”, diz Suzana, orgulhosa do feito.
Fotos: Filipe Jordão/SEE
Apesar da destreza com que maneja as caçarolas e caldeirões, Suzana relata que nem sempre foi fácil cozinhar em larga escala. “Eu era dona de casa, aí houve a necessidade de trabalhar e apareceu essa oportunidade aqui. Foi um pouquinho difícil no começo, porque eu só fazia comida pra mim, meus dois filhos e meu esposo, mas uma colega foi me orientando e fui desenrolando”, conta.
Elenice Nunes, 44, contou com a mesma solidariedade de uma colega de cozinha para aprender o ofício. “Eu trabalhava com doces e salgados, fazia bolo, torta. Então já sabia cozinhar, mas não para muita gente. É outro tipo de preparo. No começo, foi muito desafiador, mas encontrei com uma merendeira que foi tirar férias de outra colega e ela me ensinou, foi passando tudo pra mim e eu fui pegando. Hoje eu faço tudo com amor”, conta a integrante da equipe de merendeiras da Escola Técnica Estadual (ETE) Mariano Teixeira, no bairro de Areias, também na Zona Oeste da capital.
De lá pra cá, já são 18 anos de profissão, com atuação em quatro escolas. Em todos os seus preparos, ela reforça que o amor é o ingrediente que não pode faltar. “A gente trabalha porque precisa do salário, lógico, mas eu amo cozinhar. Do jeito que eu cozinho na minha casa, eu cozinho aqui pra eles”, revela Elenice.
Fotos: Filipe Jordão/SEE
RETRIBUIÇÃO
O carinho que ela deposita na comida é retribuído com frequência por alunos e ex-alunos da rede estadual. “Até hoje eu encontro muita gente que diz ‘a senhora matou tanto minha fome’, porque quando sobrava merenda, eu perguntava na direção se eu tinha autorização para dar, para não jogar fora”, conta a merendeira, que tem o tempero bastante elogiado pelas famílias da ETE Mariano Teixeira. “Os pais agradecem muito a gente que os filhos chegam em casa falando bem da comida da escola. Falam que coisas que os filhos não comem em casa, comem aqui. Dizem até que a comida da tia é melhor do que a da mãe”, conta aos risos.
Suzana também costuma receber elogios pelo seu tempero, principalmente quando, no cardápio do dia, está alguma comida popular entre os estudantes, mas conta que eles têm suas exigências. “De vez em quando eles pedem coisas como coca-cola com cachorro quente, mas eu sempre digo que, aqui na escola, oferecemos uma refeição mais forte. Feijão com arroz, carne, suco, cuscuz com galinha, cuscuz com ovo. Sempre assim”.
INCENTIVO
No cotidiano escolar, as merendeiras oferecem acalanto não só para o corpo, mas também para a mente. “A gente conversa com os alunos, dá conselho a eles. Procura até perguntar ‘por que você está assim? Está triste hoje?’. Às vezes eles dizem que é porque não têm comida em casa e até conversam sobre assuntos particulares. A gente termina escutando como se fosse uma mãe”, conta Suzana.
Elenice também está sempre a postos para incentivar os estudantes a seguirem na jornada da educação. “Eu digo muito a eles que estudem porque eles têm uma oportunidade imensa, que muita gente não teve lá atrás. Quando eles falam em desistir, eu sempre digo que não vale a pena. Com uma, duas semanas, eles vêm agradecer pelo conselho”, relata.
Para Suzana, assim como os professores, as merendeiras também ensinam. “A gente ensina os alunos a pegar só a quantidade de comida que realmente vão querer, para não estragar. Ensina que, se não quiser aquela comida, não pegue, porque vai fazer falta para o outro”, conta. “Acho que o papel da merendeira na escola é fundamental, porque alimentamos os alunos para que eles tenham um bom aprendizado”, complementa.