O tema anual da Rede Estadual, “Relações Étnico-Raciais: educar para o (re)conhecimento e a valorização da diversidade e da diferença”, segue guiando as atividades nas 1061 escolas administradas pelo Governo de Pernambuco no ano letivo de 2024. Para que as equipes pedagógicas dessas unidades de ensino possam se apropriar do tema, a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco (SEE) executa uma série de ações, entre formações, cursos de letramento racial crítico e distribuição de materiais pedagógicos. 

Entre esses materiais, estão os chamados “cardápios”, pastas temáticas com uma série de panfletos formativos que ajudam os professores a dominar os conceitos ligados às relações étnico-raciais. Esse conhecimento serve de subsídio para intervenções em sala de aula que perpassam os diversos eixos do tema. Elaborados por uma equipe técnica formada por profissionais de diferentes áreas do conhecimento, os cardápios chegam às escolas a cada bimestre. 

“Os cardápios foram pensados com a finalidade de contribuir para a formação continuada dos professores e professoras da rede estadual de ensino, oportunizando o acesso a assuntos relacionados ao tema do ano letivo e à produção de autores e autoras negros, indígenas e quilombolas. Tudo isso fomenta o letramento racial entre a comunidade escolar com reflexões que possibilitam questionar as ausências, o não lugar e a não existência da produção epistemológica e do legado cultural afro-indígena nos currículos, nos manuais didáticos, nas pautas das reuniões de planejamento, entre outras atividades comuns ao cotidiano das escolas”, explica Tarcia Silva, secretária executiva de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco. 

O primeiro exemplar já foi distribuído para as escolas estaduais e apresenta o tema anual a partir dos tópicos racismo nas escolas; raça e etnia; práticas pedagógicas antirracistas: uma sensibilização necessária; decolonialidade: definições e reflexões; racismo estrutural e seus impactos na educação; e antirracismo: uma jornada de aprendizado e reflexão. Em cada panfleto, há um QR code que leva à indicação de uma bibliografia mais extensa sobre o tema ali tratado. 

“O material veio para os professores efetivarem as suas práticas pedagógicas”, avalia Luciano Machado, gestor da Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) de Beberibe, na Zona Norte do Recife.  A partir dos cardápios, os docentes da unidade de ensino estão trazendo novas abordagens para as ações relacionadas à temática étnico-racial, que já eram ostensivas na unidade de ensino. “Esse material sintetiza o que a gente já vem fazendo. Ele cria uma organização do trabalho. Quando a gente começa a falar de raça, que é um dos encartes, trazemos uma coisa mais abrangente para que os alunos entendam o início do tema. Então, eles funcionam para a gente resumir e começar a pensar em outras abordagens e linguagens”, revela Allyson Gonçalves, professor de geografia da escola.

Para o docente, um aspecto importante do material é a abordagem das nomenclaturas específicas. “A gente começa a difundir termos mais científicos para os estudantes. As nomenclaturas trazem uma abordagem temática que nos permite ramificar para outros sentidos, como a decolonialidade e multiculturalidade através das expressões artísticas, da dança, da música”, explica Allyson, que, em suas aulas, agrega expressões socioculturais que fazem parte da vivência dos estudantes, como a rima e o freestyle, subgênero da música rap. 

“Quando eu coloco uma música de Racionais MC’s, por exemplo, eu consigo abordar a linguagem das ruas, da vivência do homem negro, periférico e urbano. Afinal, somos uma escola de periferia, mas que está num centro urbano, e é preciso abordar esses problemas sociais”, considera. O estudante Pedro Augusto, do segundo ano, é um dos que aprovam esse tipo de iniciativa. “O rap é uma cultura da nossa localidade e por isso é importante ter isso nas escolas, porque a gente consegue dar voz às pessoas que não têm tanta voz”, diz o jovem. 

O tema anual escolhido pela SEE reforça a importância da execução das leis 10.639/2003 e 11645/2008 para a promoção da igualdade e valorização da diversidade, aspectos que são garantidos no espaço escolar pelo que determina o Currículo de Pernambuco. Na EREM de Beberibe, a devida aplicação das leis através da arte é foco desde 2016, quando a escola montou o espetáculo Navio Negreiro. O grupo de dança Fulores do Palco, coordenado pelas professoras Ediane Ramos e Lilian Pinto, agora ensaia o espetáculo “Ser tão Mulher”, que abarca narrativas de mulheres sertanejas. “Agora estamos com esse espetáculo que traz, entre outras expressões populares, a jurema. Nessa perspectiva, quando o material chegou pra gente, confirmou o que já estávamos trabalhando. É um indício de que estamos no caminho certo”, comenta a professora Lílian. 

Fotos: Josimar Oliveira