Em todo o estado, unidades de ensino promovem atividades com foco nas relações étnico-raciais
Até o fim de novembro, a Rede Estadual de Pernambuco celebra o Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado nesta quarta-feira (20). Por todo o estado, várias unidades de ensino estão promovendo atividades que evidenciam a cultura africana e afro-brasileira, fomentam discussões sobre o racismo e incentivam os estudantes a serem agentes ativos da luta contra a discriminação racial.
Na Escola de Referência em Ensino Fundamental (Eref) Pintor Lauro Villares, em seu anexo que funciona no Centro de Internação Provisória (Cenip) Santa Luzia, ligado à Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase), uma ação interdisciplinar celebrou a data a partir do itã Obá e a Orelha. Itãs são lendas da cultura iorubá, que têm forte influência na formação da cultura brasileira. Entre as atividades realizadas, estiveram pinturas de quadros dos protagonistas da história (Xangô, Oxum e Obá), levantamento dos nutrientes e vitaminas dos ingredientes da comida amalá – oferecida ao orixá Xangô, além de leitura e compreensão do Itã.
Carlos Tomaz, professor responsável pela iniciativa, ressaltou a importância de abordar a temática em espaços de ressocialização. “A Funase é um espaço onde a maioria das pessoas internas são da periferia e negra. O nosso adolescente preto tem vergonha da sua cor, já que tudo que está ligado ao preto é colocado como mau, feio, enganoso e ruim. Então, essa é a importância de se trabalhar as questões de África, étnico-raciais e o combate ao racismo por meio da educação durante todo o ano, de maneira interdisciplinar”, afirma o docente.

Em Moreno, na Região Metropolitana do Recife, a Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Cardeal Dom Jaime Câmara realizou o Projeto Baobá, nesta terça-feira (19). Criada em 2017, a iniciativa nasceu com o objetivo de promover a reflexão sobre as origens e contribuições do povo negro para a construção da identidade cultural de Pernambuco. Atualmente, o projeto é uma lei municipal (Lei nº 0622, de 09 de novembro de 2021). A partir desse reconhecimento, o evento passou a ser celebrado oficialmente como o Festival Baobá de Consciência Negra.
A programação contou com diversas apresentações culturais como dança, teatro, desfile, poesias e a homenagem a personalidades pernambucanas que têm se destacado na promoção da cultura negra. Essas manifestações artísticas são preparadas pelos próprios alunos, que, ao longo dos meses, se envolvem em pesquisa, produção e ensaios, explorando sua criatividade e o conhecimento sobre a história e cultura afro-brasileira. Também foram oferecidos vários serviços à comunidade escolar, como vacinação, tratamento odontológico e aferição de pressão arterial e glicose, numa ação em parceria com a Secretaria de Saúde do Município de Moreno.

Já a Escola Técnica Estadual (ETE) Mariano Teixeira, no Recife, preparou uma programação especial de 6 a 30 de novembro. Ao longo do mês, os estudantes terão a oportunidade de participar de palestras, workshops, rodas de diálogos, cineclube e apresentações de grupos estudantis. Dentre as temáticas abordadas, estão a saúde da população negra, o racismo e suas expressões, a simbologia dos orixás, a culinária africana, dentre outros. A iniciativa busca enriquecer a formação dos estudantes abordando temas como a origem dos movimentos negros no Brasil, a importância e aplicação da Lei nº 10.639, além de diferentes formas de racismo e discriminação.
“Queremos fomentar discussões sobre o racismo e seus variados tipos. Estes persistem historicamente como fruto de carências de políticas públicas desde a época da assinatura da Lei Áurea, que não ofereceu oportunidades à população escravizada, obrigando-as a migrarem para as áreas periféricas das inúmeras cidades do nosso país”, pontuou a professora de história e sociologia Edna França.
Na Erem Professora Jandira de Andrade Lima, em Limoeiro, no Agreste, as atividades giraram em torno do tema “Na luta contra o racismo, você não é pele, você é atitude”. A programação, com culminância, nesta terça-feira (19), contou com exposição de murais com personalidades negras, desfile afro, leitura da obra de escritores negros, roda de capoeira e mesas de debates sobre temas como o caso do menino Miguel e o de racismo contra o jogador de futebol Vini Jr.
Para a estudante do segundo ano Mikaelly Tailane, a programação contribui muito para a sua formação étnico-racial. “Trabalhar isso aqui na escola se torna gratificante, pois tive a oportunidade de espalhar os conhecimentos sobre a cultura negra, que hoje em dia é muito criticada e desvalorizada. Isso me ajuda a aprender coisas novas e espalhar conhecimentos para os demais. Sou muito grata por estar participando desse projeto como mulher, estudante e negra”, celebra.
Em João Alfredo, também no Agreste, a Erem Jarina Maia promove, até o fim do mês, uma programação interdisciplinar que contempla exposição de grandes escritores da literatura negra, declamação de poemas e reflexões sobre suas obras, jogos tradicionais de origem africana e homenagens a grandes nomes da música negra, como Gilberto Gil, Elza Soares e Jackson do Pandeiro. O objetivo das atividades é proporcionar aos estudantes uma visão mais ampla, inclusiva e significativa sobre o papel da cultura negra na sociedade.
Tema Anual
No Currículo de Pernambuco, o combate ao racismo e o fortalecimento da identidade negra são temas transversais, que estão presentes em ações realizadas ao longo de todo o ano letivo. Em 2024, essas ações foram intensificadas a partir do tema anual da Rede Estadual, “Relações étnico-raciais: educar para o (re)conhecimento e a valorização da diversidade e da diferença”.
“O tema do ano letivo leva em conta o quanto as desigualdades interferem no aproveitamento e na aprendizagem dos estudantes. Pensamos em como fortalecer essa discussão, reconhecendo a raça como elemento crucial dessas desigualdades que perpassam as relações no nosso país. Ao levantar essa pauta, buscamos a contribuição que todos os componentes curriculares têm para dar nessa discussão, sejam eles dos anos iniciais, finais ou do ensino médio”, explica Tarcia Silva, secretária executiva de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco.