Educador dará nome ao novo laboratório de informática da escola, no Recife, onde atua há 46 anos

Uma trajetória de vida dedicada à educação. Há 51 anos na Rede Estadual, Carlos José da Silva segue formando gerações de estudantes na Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) de Beberibe, na Zona Norte do Recife, onde já atua há 46 anos. Professor de língua portuguesa de formação, ele hoje auxilia a gestão na função de apoio pedagógico e não tem planos de deixar o ambiente escolar. 

Dos seus 71 anos de idade, 51 foram guiados pelo amor à educação. “Eu adoro ensinar. Nasci professor e vou morrer professor”, afirma Carlos, assertivamente. Nem um acidente vascular cerebral (AVC), que sofreu em sala de aula, em 2018, nem a pandemia da Covid-19 afastaram o educador da sua vocação. Diante desse cenário, Carlos precisou se lançar a novos desafios fora da sala de aula, mas não deixou de participar da educação dos estudantes. Todos os anos de dedicação à Erem de Beberibe foram reconhecidos neste mês de junho com a inauguração do novo laboratório de informática da escola, que leva o nome do docente. 

A cerimônia de inauguração do laboratório reuniu estudantes, professores e ex-professores, representantes da Gerência Regional de Educação (GRE) Recife Norte, amigos e familiares de Carlos, que lotaram o auditório da unidade de ensino para expressar a sua gratidão por meio de apresentações culturais e discursos. “Nós alunos, professores e demais funcionários consideramos você um alicerce para essa escola. O senhor é uma peça fundamental para a engrenagem da nossa máquina educacional, que não poderia ter sido substituída nesses 46 anos aqui”, disse Hillary Vieira, oradora do grêmio estudantil da Erem de Beberibe. 

Luciano Machado, gestor da unidade de ensino, deixou claro que não abre mão da sabedoria de Carlos na sua equipe. “Carlos é um servidor da educação com uma matrícula bastante antiga. Mas, eu não mantenho aqui uma matrícula, eu mantenho qualidade. Falar de Carlos é falar de zelo, de carinho, de cuidados. Ele é quem chega primeiro na escola, quem toma conta de todos”, afirmou. 

Apesar da personalidade séria que construiu ao longo dos anos, é esse carinho que garante a Carlos o respeito dos estudantes. “Eu entendo o alunado. Eu sou assim, rígido, mas eles gostam de mim. Tem muita gente aqui que me chama de pai”, revela o educador. 

Fotos: Filipe Jordão/SEE

LIDERANÇA 

Quando ainda atuava nas salas de aula, Carlos já se envolvia com atividades que facilitam o dia a dia na escola. “Sempre tive esse propósito de trabalhar em ambiente organizado, em que o aluno respeita o professor. Então, desde que entrei no estado, em 1973, fiquei nessa linha de manter a organização da escola, de fazer horário, de organizar as salas de aula”, conta. 

Rígido e voluntarioso, Carlos reúne características de um líder. Assim ele é visto tanto pelos colegas de trabalho, quanto pelos estudantes e suas famílias. “Às vezes, a gente descredibiliza a forma como Carlos dá uma ordem, ou quando pede uma coisa pra gente, achando que ele já está “coroa”. Mas, quando ele está falando, a gente tem que parar, escutar e analisar antes de dar uma resposta e agir, porque ele sabe o que está fazendo”, diz Allyson Gonçalves, professor de geografia da Erem. 

LEGADO 

Atividades e projetos criados por Carlos em seus tempos de professor seguem até hoje na escola, como o Chá de Letras, que já vai para a sua 12ª edição. O projeto interdisciplinar de língua portuguesa e inglês envolve apresentações de cordel, dramatizações, musicais, além da produção de poemas e contos. 

Com uma aula cantada, em que regras da língua portuguesa viraram músicas nunca esquecidas pelos alunos, Carlos incentivava seus pupilos a se apaixonar pelo universo das palavras. “Como professor, eu sempre utilizava aulas invertidas. Dava aula lá no estacionamento, juntava o grupo em uma grande roda e recitava poemas, lia contos. Os alunos traziam violão, cantavam música popular. Uma vez encontrei um ex-aluno na padaria e ele me disse que fui eu que fiz ele gostar de leitura”, celebra Carlos. 

São esses tipos de interação que, para o professor, fazem tudo valer a pena. “O maior orgulho é quando encontro um aluno que diz que aprendeu muito comigo. Acompanhar tantas gerações é uma experiência incrível”, revela.