Estudantes são acompanhados por professores braillistas nas escolas, enquanto público geral conta com acervos em Braille gerenciados pelo estado
Pontos em relevo que, combinados, formam 63 sinais para serem lidos com as pontas dos dedos. Nesta terça-feira, 8 de abril, comemora-se o Dia Nacional do Sistema Braille, código universal para a escrita e a leitura das pessoas com deficiência visual que completa 200 anos. A data homenageia José Álvares de Azevedo, primeiro professor cego do Brasil a ensinar o Sistema Braille, criado pelo francês Louis Braille.
Nas escolas da Rede Estadual, o braille é um importante instrumento de inclusão. Alunos cegos e com baixa visão são atendidos pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE) e acompanhados pelos professores braillistas. É o caso de Laís Rodrigues, estudante do 2º ano da Escola de Referência em Ensino Fundamental e Médio (Erefem) Joaquim Xavier de Brito, na Zona Oeste do Recife.
Para acompanhar os conteúdos, seus materiais são transcritos para o braille. Na unidade de ensino, ela também conta com uma máquina Perkins, parecida a uma antiga máquina de datilografia, à disposição para desenvolver suas atividades. “Estou recebendo minhas tarefas em braille e entregando aos professores. Meus colegas também sempre me ajudam quando podem”, relata a estudante.
A interação com a turma e com o corpo docente demonstram a inclusão na prática da rotina escolar. “Ajudar o outro não é fazer com que ele se sinta excluído, mas tratá-lo como qualquer outra pessoa. É entender que a gente tem limitações, mas não somos incapazes. O importante é saber como agir, como explicar um determinado assunto”, defende Laís.


Fotos: Demison Costa/SEE
Andreza Wendell, educadora braillista que dá suporte à estudante, acredita que seu atendimento é essencial para que alunos com deficiência visual acompanhem o conteúdo de forma segura. “O trabalho do professor brailista é muito importante, considerando que a gente tem a possibilidade de mediar a aprendizagem em parceria com o professor na sala de aula, que domina os conteúdos, enquanto nós auxiliamos fazendo as adequações necessárias. Se não quebrarmos a barreira para que o estudante possa acessar os conteúdos, não é possível garantir o aprendizado”, avalia a docente.
Na sala de recursos multifuncionais da unidade de ensino, que, além da máquina Perkins, conta com uma impressora de braille, os materiais são transcritos e adaptados para Laís. “Os equipamentos de tecnologia assistiva são importantes, como o reglete e punção (instrumento para a escrita braille) e o soroban (instrumento para cálculos matemáticos), que são equipamentos básicos, mas fundamentais para facilitar o processo de transcrição e adaptação”, explica Andreza, convocada no último concurso da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco (SEE).
Ao todo, 58 professores braillistas já foram convocados desde 2023, ultrapassando as 19 vagas previstas no edital. Em março, a SEE abriu uma seleção simplificada para ocupar 338 vagas para profissionais da educação especial. Entre as funções, está a de professor braillista.
Acervo em Braille
A SEE mantém um importante acervo de obras em braille, como o da Biblioteca Pública do Estado (BPE), localizada na área central do Recife. Inaugurado na década de 1970, o setor Braille da BPE conta com aproximadamente 2.400 títulos de livros e periódicos com fonte ampliada, audiolivros e ePubs para pessoas com deficiência visual, estudantes e professores do segmento.
Além do material bibliográfico, também são disponibilizados equipamentos e materiais lúdico-pedagógicos como impressoras braille, mapas em relevo, gravadores, fones de ouvido e jogos adaptados. Entre os serviços oferecidos, estão o suporte e orientação ao uso de smartphones por pessoas cegas e com baixa visão, digitalização de textos e transcrição de textos em tinta para braille.
O setor, que funciona de segunda a sexta, das 8h às 18h, também realiza ações e eventos para pessoas com deficiência visual, como palestras e oficinas, além de manter parcerias com vários municípios do estado. Essas atividades caracterizam o setor como um importante espaço para a vida escolar e social das pessoas cegas. “Quando venho aqui, passo o dia todo. Além de utilizar os serviços, o público acaba interagindo socialmente com os funcionários e outros usuários. O setor braille é um ponto de encontro e daqui já surgiram até casamentos”, conta Arão Júnior, comunicador social que é usuário do espaço há mais de 40 anos.
Outro importante acervo em braille gerenciado pelo estado é o da Biblioteca Professor Gildo Soares, do Centro de Apoio para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual de Pernambuco (CAP-PE). Situada na Zona Norte do Recife, nas dependências do Centro de Atendimento Educacional Especializado do Recife (Caeer), a biblioteca conta com um acervo de mais de 300 obras em Braille, além de livros em tinta.
O CAP também conta com o Núcleo de Produção Braille, onde se produzem livros e apostilas acessíveis que são destinados para a Rede Estadual de Ensino e promove atividades de formação e atendimento pedagógico no estado. Uma dessas formações é o curso de Tiflologia, onde os inscritos aprendem sobre o Sistema Braille, orientação e mobilidade, e tecnologias assistivas.
Já os atendimentos pedagógicos são destinados exclusivamente a pessoas com deficiência visual. Os serviços são oferecidos de acordo com uma avaliação pedagógica de cada estudante. Entre eles, estão o ensino da escrita cursiva, técnicas de orientação e mobilidade, uso de aparelhos eletrônicos como celulares e computadores, e técnicas na cozinha. As ações são voltadas para proporcionar maior autonomia. Estudantes da rede pública de ensino atendidos pelo CAP frequentam o centro no contraturno escolar.