Projeto foi desenvolvido na ETE Professor Paulo Freire e custa, em média, R$ 92

Utilizando a tecnologia a serviço da sociedade, estudantes da Escola Técnica Estadual (ETE) Professor Paulo Freire, em Carnaíba, no Sertão do estado, desenvolveram uma luva que consegue estabilizar tremores nas mãos. Chamada de GlovETE, a iniciativa foi criada com o objetivo de mitigar um dos sintomas mais comuns da Doença de Parkinson, distúrbio degenerativo que afeta as células cerebrais. O protótipo da luva custa, em média, R$ 92, enquanto diferentes luvas já presentes no mercado podem chegar a R$ 8.000.

O projeto foi desenvolvido no Espaço 4.0 da ETE, com orientação dos professores Gustavo Bezerra e Carla Robecia. A luva surgiu durante os encontros do clube de robótica da escola, a partir de um exercício de empatia dos alunos. “Eu tive que faltar alguns dias pra levar minha mãe a um tratamento de Parkinson e, quando cheguei lá no clube, comentei com os alunos que ela estava enfrentando essa necessidade. Então, os quatro estudantes do grupo discutiram a possibilidade de encontrar uma alternativa na robótica. Achei muito bacana, porque, por mais que eu sempre tenha desenvolvido projetos com os alunos para resolver problemas da comunidade, eu nunca imaginei que pudesse ser um problema tão próximo a mim”, conta Gustavo.

A partir daí, utilizando conceitos de robótica e de física aprendidos na escola, os estudantes partiram para o desenvolvimento do protótipo. O primeiro desafio foi encontrar um motor de alta rotação que pudesse ser reutilizado para funcionar com um antitremor. “Eles chegaram ao motor de HD de computador, disponível em algumas máquinas antigas lá na escola. A rotação desse motorzinho na superfície da mão vai fazer com que o portador evite realizar movimentos involuntários, tentando controlar os movimentos causados pelo Parkinson”, explica o orientador.

O motor do HD reaproveitado funciona como um giroscópio, garantindo estabilidade para a mão enquanto gira em alta velocidade. A ele, foram adicionados uma luva de academia e outros componentes eletrônicos, como Arduíno, uma placa programável. O protótipo foi construído graças aos materiais disponíveis no Espaço 4.0, como uma impressora 3D, furadeiras e uma microrretífica, ferramenta capaz de perfurar, escavar, cortar, lixar e polir materiais e superfícies em pequena escala.

Rayane Morais, uma das estudantes envolvidas no projeto, lançou-se ao desafio com pouco conhecimento sobre tecnologia e hoje cursa Sistema de Informação na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Os meninos que participaram comigo do projeto já tinham uma boa base geral de tecnologia, de programação, de montagem. Tive que me esforçar um pouco mais pra conseguir acompanhar. Eu fiquei mais por dentro das pesquisas, mas estudando, observando. Com a ajuda dos colegas, consegui me adequar melhor ao projeto. Essa oportunidade me mostrou uma área que eu consegui me identificar e que eu me sinto mais à vontade e mais confiante em atuar profissionalmente.”, conta a jovem, que antes planejava cursar licenciatura em letras.

Imagens: Divulgação

A estudante aponta a fase de testes da luva como uma das mais complicadas do projeto. “A gente não poderia testar logo de cara em uma pessoa que tem a Doença de Parkinson, então um amigo nosso ia usando e dizia o que incomodava. O objetivo foi preservar a autonomia sem afetar o desempenho do nosso protótipo”, explica Rayane. Mesmo diante das dificuldades, a luva estabilizadora conquistou premiações. Foi um dos 50 melhores projetos de 2023 do Solve For Tomorrow, prêmio da Samsung, e também alcançou o primeiro lugar no QCiência, evento de ciência e tecnologia da UFPE.

Atualmente, o projeto está em fase de transição. Os estudantes que desenvolveram o protótipo – Danilo Morais, Felipe Santos e Gustavo Henrique e a própria Rayane – concluíram o ensino médio e outros estudantes trabalham para propor melhorias na luva. “Dentre essas melhorias, a gente visa diminuir o tamanho dela para ficar mais confortável para o portador da doença, substituindo o Arduino Uno por um Arduino Nano, além de deixar ela mais automatizada, acoplando baterias recarregáveis, o que vai facilitar a locomoção das pessoas com a luva”, conta Gustavo. Após as modificações, o grupo tentará aprovar o projeto em um comitê de ética para testar o protótipo em pessoas que sofrem da doença.